o gari que tem uma longa barba branca sempre varre a ciclovia na hora que passo por ela. me vê de longe, se coloca na calçada, arreda o montinho de folhas e estende o braço, sinalizando a passagem livre. sempre diminuo. aceno com a cabeça. bom dia! a mulher que trabalha na central de correspondências … Continue lendo visões
nossos pesadelos não cabem nas urnas
o ano que passou foi o mais quente desde que existem registros. foram quantas as portoalegrenses que viraram noites erguendo móveis, salvando documentos e fugindo da água? são quantas as moradoras de encosta de morro, de área irregular, de palafita? quantas moram na rua, acordam, mijam, dormem, comem nas calçadas? quantas famílias passam fome na … Continue lendo nossos pesadelos não cabem nas urnas
ao pocho, nos 50 anos daquele dia
companheiro pocho, que diria se te contassem que, cinquenta anos depois, ainda aparecem pelas ruas e pelas paredes, pelas marchas e pelos corações um grito meio uníssono, meio cansado, que pergunta: onde estão? se contassem que memória, verdade e justiça são palavras de ordem, todo tempo e ainda agora, e que brigamos pra não perder … Continue lendo ao pocho, nos 50 anos daquele dia
consciência
foi no rio grande do sul, um dos estados mais embranquecidos do brasil, onde primeiro o povo preto se organizou para pensar uma data-símbolo pra eterna luta antirracista em um dos países mais racistas do mundo. a data escolhida foi o dia do assassinato de zumbi dos palmares, herói da resistência quilombola contra o terror … Continue lendo consciência
una carta
a veces recuerdo los momentos que compartimos. de cómo me sentía abriendo paréntesis entre paréntesis que la vida ya era, ya estaba siendo, y de cómo vos - que habías tenido un año sabático y que sabía esquiar y todo - te esforzabas en encontrar conmigo cosas raras que te parecían poco o casi nada … Continue lendo una carta
caetano
fiquei lá, sentado, esperando, quase imóvel. olhei cada detalhe de novo e de novo e de novo. fiquei vendo o que passava no telão, anunciando os espetáculos que viriam. refleti sobre a privatização do araújo, sobre o totem da coca queimado em 2012 e sobre a imagética dessa cidade que adora queimar os símbolos, mas … Continue lendo caetano
clinicar
“O esquizoanalista não é um intérprete, [...] ele é um mecânico, um micromecânico. Não há escavações ou arqueologia no inconsciente, não há estátuas […] trata-se de saber quais são as máquinas desejantes de alguém, como elas funcionam, com que sínteses, com que entusiasmos, com que falhas constitutivas, com que fluxos, com que cadeias, com que … Continue lendo clinicar
loucura é prender gente
libertar a loucura é libertar a humanidade. mas o que é a loucura? é o nome que deram para inventar mais uma categoria de gente que é menos gente; gente passível, portanto, de receber sobre seus corpos e suas vidas os mais altos graus de violência política, esses que só podem ser cometidos contra gente … Continue lendo loucura é prender gente
pro seu marcelo, em 25 de abril
cheguei em portugal num sábado a noite. no domingo, fui ao mercado seguindo rigorosamente as instruções que me passaram as recém-conhecidas-futuras-amigas e filmando tudo pra mostrar a cidade pra minha mãe. no mercado, tinha de tudo, mas me chamou atenção o que não tinha - entre outras coisas, filtro e porta-filtro de café. na segunda, … Continue lendo pro seu marcelo, em 25 de abril
trabalho
é o conjunto das tarefas (e do tempo) desempenhadas de forma consciente, organizada e intencional no sentido de obter ganho, geralmente financeiro. no geral, é o conjunto das tarefas que produzem ou ajudam a produzir uma riqueza a ser roubada quase na sua totalidade por um outro, um não-trabalhador, que dela se apropria. o trabalho … Continue lendo trabalho